terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Uma cidade de 54 anos onde ninguém pode nascer nem estudar. Por quê?

Diversos municípios do interior alagoano são povoados por “forasteiros”, ou seja, pessoas que vivem, têm família, casa e amigos, mas não nasceram lá. Isso não significa que moravam em outras cidades e escolheram esse lugar para viver. A situação é bem mais simples: não nasceram onde moram por falta de maternidade. Por isso, suas genitoras, desde a descoberta da gestação, fazem acompanhamento e o parto em municípios próximos que dispõem dessa estrutura.
O município em questão, anunciado no título, é o pequeno Monteirópolis, no Sertão alagoano. Desde sua emancipação política, em 1960 (mesmo ano da fundação de Brasília), até hoje, a cidade não dispõe de estrutura suficiente para realizar partos. Na primeira década, de 1960 até 1970, muitas pessoas ainda nasciam em casa, pelas mãos das parteiras. A partir dos anos 1970, o caminho mais curto para dar à luz era Pão de Açúcar, de onde Monteirópolis havia se emancipado. Depois vieram Santana do Ipanema, Batalha e assim por diante.
Por isso, atualmente, é raro encontrar algum “monteiropolitano de nascimento” com menos de 45 anos de idade. São todos, de certa forma, “forasteiros”, com local de nascimento comprovado no registro ou documento de identidade.
Para estudar o Ensino Médio, da mesma forma: é preciso se deslocar aos municípios mais próximos. São 54 anos de emancipação – a serem completados em junho deste ano – e sem duas conquistas fundamentais: nascer e estudar. Os monteiropolitanos, em sua maioria, cursam o Ensino Médio em Olho D’Água das Flores.
Por esses dois motivos – nascer e estudar – o desenvolvimento ocorre na cidade que presta esses serviços. Quando já existe uma escola, fica mais fácil ser construída mais uma, e outra, e assim por diante. O comércio também agradece, pois é nele que são feitas as compras governamentais para manutenção de escolas e maternidades.
Em 2013, pela primeira vez em 53 anos, a única escola estadual de Monteirópolis ofertou o 1º ano do Ensino Médio. Em 2014, estão sendo ofertados o 1º e o 2º anos - ainda com pouca estrutura tanto para quem estuda quanto para quem ensina.
Mesmo assim, a maioria ainda se desloca até Olho D’Água das Flores. Em quase 54 anos de história, quanto já foi investido em aluguel, manutenção e abastecimento de veículos que levam os estudantes até a cidade vizinha? A quem interessa "deixar a situação do jeito como está"?
Enquanto isso, a pequena Monteirópolis e outras cidades de mesmo porte ultrapassam meio século de existência com poucas mudanças relevantes em benefício da população.

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